Seminário na UnB marca o início das comemorações pelos 50 anos do DAAD no Brasil
Neste artigo, trazemos um resumo das palestras apresentadas na UnB, bem como os links para os arquivos com todas as apresentações. Aqui é possível assistir à transmissão do segundo bloco do seminário, feita pela UnBTV, incluindo a interpretação de libras feita ao vivo durante o evento.
Veja aqui a programação completa do seminário.
Os desafios da sustentabilidade no uso da terra no Brasil
O primeiro bloco do evento realizado em 16/08/2022 discutiu a temática do uso da terra no Brasil a partir do ponto de vista de dois ex-bolsistas do DAAD e incluiu uma palestra do secretário-geral do DAAD, Dr. Kai Sicks, que veio ao Brasil especialmente para a ocasião.
O primeiro palestrante foi o Prof. Dr. Benno Pokorny, professor de Desenvolvimento Rural na Faculdade de Meio Ambiente e Recursos Naturais da Universidade de Freiburg (Alemanha) e Diretor da Área Temática de Bioeconomia da GIZ Brasil. Na apresentação intitulada “Bioeconomia: a nova sustentabilidade?! Abordagens e lições” (confira o arquivo aqui), o pesquisador mostrou como a bioeconomia prevê a transformação da economia clássica em uma economia baseada no respeito e no uso sustentável da diversidade biológica e cultural. O Prof. Pokorny abordou como os pressupostos da bioeconomia podem ser empregados para consolidar uma lógica mais sustentável de desenvolvimento, baseada em quatro características: diverso, local, pequeno e devagar.
“Tendo essas características, há alta probabilidade de que seja uma atividade transformadora sustentável. É fundamental considerar a perspectiva local e não apenas os interesses urbanos e dos países com economias fortes. Devemos adequar cadeias de valor para integrar produtores locais. É preciso aceitar que há uma limitação da viabilidade econômica nesse contexto. Hoje todos querem resultados em pouco tempo, com poucos riscos. Vemos, então, mesmo na bioeconomia a concentração em poucos produtos, mais atraentes, o que não respeita a diversidade”, explicou o Prof. Pokorny, que também alertou para o que chamou de “sequestro do termo bioeconomia” por atores que nada tem a ver com essa área, como é o caso da agroindústria.
Após a interessante introdução sobre a bioeconomia, o olhar sobre a região que sediou o seminário ficou por conta da Profa. Dra. Mercedes Bustamante, professora do Departamento de Ecologia do Instituto de Ciências Biológicas da UnB e membro titular da Academia Mundial de Ciências (TWAS). A ex-bolsista do DAAD iniciou sua fala com um depoimento inspirador sobre sua temporada acadêmica na Alemanha durante o doutorado em Geobotânica, cursado na Universidade de Trier.
Na palestra “O Cerrado: um hotspot de biodiversidade na encruzilhada das crises locais e globais” (arquivo da apresentação aqui), a pesquisadora apresentou a grande diversidade biológica e cultural do cerrado e traçou um panorama dos desafios enfrentados por esse bioma brasileiro. Entre eles, a Profa. Mercedes apontou a perda de quase 50% de sua vegetação original, a expansão da agricultura como motor do desmatamento, as consequentes mudanças no regime de fogo (mais frequente) e o fato de ser o bioma menos protegido pela legislação ambiental no Brasil, entre outros. Mas a pesquisadora também trouxe perspectivas positivas ao mostrar o potencial de restauração de áreas degradadas, como pastagens. A demanda por restauração abrange 35% das áreas de pastagem do cerrado, o que equivale a cerca de 10% de toda a área do bioma.
A Profa. Mercedes apresentou, ainda, um interessante trabalho de mapeamento de comunidades tradicionais no cerrado, distribuídas em quatro corredores prioritários de biodiversidade: Central de Matopiba; Veadeiros – Pouso Alto – Kalungas; Sertão Veredas – Peruaçu; e Mirador – Mesas. Segundo a pesquisadora, as estatísticas oficiais contabilizam 636 comunidades, das quais 53% são quilombolas: “Indo a campo para expandir esse mapeamento vemos que há um número enorme de comunidades fora dos dados oficiais e logo fora das políticas públicas”. Como forma de apoiar as demandas desses territórios e para permitir o automapeamento por esses povos, foi desenvolvido o aplicativo gratuito “Tô no Mapa”, uma iniciativa do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN), com apoio da Rede Cerrado.
Compromissos ambientais do DAAD em foco
Para fechar o primeiro bloco, o Dr. Kai Sicks, secretário-geral do DAAD, apresentou a palestra “O DAAD e a Agenda 2030: a cooperação acadêmica internacional à luz de um futuro sustentável” e abordou os principais compromissos assumidos pelo DAAD para reduzir sua pegada ecológica em duas frentes principais.
A primeira é a gestão institucional sustentável, que busca atingir a chamada “neutralidade climática” das operações do DAAD até 2030, com medidas como a implementação de novos modelos de mobilidade para os funcionários na sede em Bonn, que incluem fornecimento de bicicletas, e a criação de diretrizes para publicações impressas sustentáveis. A segunda frente está ligada à mobilidade acadêmica promovida pelo DAAD: segundo o Dr. Sicks, a cooperação digital internacional não pode substituir todas as viagens, mas pode reduzir voos e deslocamentos em alguns casos. Naturalmente, o secretário-geral detalhou, ainda, a contribuição do DAAD para a proteção climática com suas atividades de fomento à pesquisa e à cooperação acadêmica.
No intervalo do almoço, o DAAD convidou o público para um café com bate-papo sobre as oportunidades de estudos e pesquisa na Alemanha no Memorial Darcy Ribeiro. Durante o café “Pergunte ao DAAD”, tivemos a presença de ex-bolsistas do DAAD para relatar suas experiências e inspirar os interessados.
Tarde de muito debate sobre políticas linguísticas na universidade
Já o segundo bloco do seminário (transmitido pela UnBTV) teve como tema “A sustentabilidade das políticas linguísticas no ensino superior” e reuniu diferentes pesquisadores para analisar assuntos como o multilinguismo nas universidades como prática para uma internacionalização sustentável. A ocasião marcou oficialmente a inauguração do leitorado de língua alemã do DAAD na UnB, que viabiliza as atividades da professora visitante Isabell Le Blanc. Ela apresentou o trabalho de promoção do idioma alemão na universidade anfitriã e diversos projetos futuros, que podem ser acompanhados neste perfil do Instagram.
A mesa-redonda “Políticas linguísticas sustentáveis no ensino superior: multilinguismo, tolerância e inclusão” reuniu o Prof. Dr. Virgílio Almeida, professor do Bacharelado de Línguas Estrangeiras Aplicadas ao Multilinguismo e à Sociedade da Informação e Secretário de Assuntos Internacionais da UnB; a Profa. Dra. Alessandra Harden, professora do Depto. de Línguas Estrangeiras e Tradução da UnB, e Representante da área de língua alemã, a professora Isabell Le Blanc e o Dr. Jochen Hellmann, diretor do DAAD no Brasil. Em sintonia com a temática discutida, o programa do bloco 2 do seminário teve interpretação para libras.
Confira os arquivos das apresentações do segundo bloco:
Dr. Jochen Hellmann (em alemão) | Prof. Dr. Virgílio Almeida |
Isabell Le Blanc (em alemão)
Com grande participação do público, a tarde teve também uma roda de conversa mediada pela Profa. Mercedes Bustamante com o tema “Desafios e conquistas nos encontros multiculturais do intercâmbio acadêmico” e a participação do Prof. Dr. Pablo Holmes Chaves (ex-bolsista do DAAD) e as intercambistas e estudantes da UnB Liele Rodrigues e Mariana de Jesus Andrade. A programação foi encerrada com uma apresentação sobre as bolsas e programas de fomento do DAAD.
Artigo: Fabíola Gerbase | Publicado em 18/08/2022